Edison Moraes
Homenagem póstuma: Chico Mangabeira
“NASCER PARA O ALÉM”
Há quem morra diariamente.
Morre o dia, mas logo outro se faz nascente,
Morre a semente, mas nasce a flor.
Morre o homem para o mundo e nasce para o Criador.
Para toda morte, haverá uma nova vida,
Esta é a esperança da despedida.
Triste é ver gente morrendo por antecipação,
Acompanhada, mas na solidão.
Há tanta gente morrendo a cada dia, sem partir,
Vagando entre nós sem se sentir.
A lembrança de nossos irmãos
E o desejo de voltar a apertar-lhes as mãos.
Essa vontade de rasgar o infinito, após a partida,
Para retroceder o tempo e segurar a vida.
Foram para o além, deixando um vazio no viver,
Que a gente às vezes disfarça esquecer.
Deles guardamos a trajetória,
Que fica gravada indelével na memória.
São ausências cheias de presença,
Cujo conforto está na crença
De que o corpo ficou na lápide sepulcral,
Mas a alma subiu para a paz celestial.
Chico Mangabeira: 10/10/1914 - 06/09/2015 (101 anos)
Montes Claros MG
Homenagem Póstuma
Denise Vilela de Carvalho † José Maria de Carvalho Morais († 15/02/2015)
Helena Kolody
Almejo mergulhar
na solidão e no silêncio,
para encontrar-me
e despojar-me de mim,
até que a Eterna Presença
seja a minha plenitude (p. 70).
Tudo o tempo leva.
A própria vida não dura.
Com sabedoria,
colhe a alegria de agora
para a saudade futura (p. 29).
Tu, Senhor, que repartes os destinos:
Por que me deste o árido quinhão
De sonho, de tristeza e solidão? (p. 196)
Em seus caramujos,
os tristes sonham silêncios.
Que ausência os habita? (p. 26).
Concede-me, Senhor, a graça de ser boa,
De ser o coração singelo que perdoa,
A solícita mão que espalha, sem medidas, Estrelas pela noite escura de outras vidas
E tira d'alma alheia o espinho que magoa (p. 217).
Transeuntes
da vida provisória:
que rumor de asas eternas
para além das fronteiras e dos símbolos! (p. 59).
Estou sempre em viagem.
O mundo é a paisagem
que me atinge
de passagem (p. 39).
Será sempre agora.
Viajarei pelas galáxias
universo afora (p. 26).
A vida bloqueada
instiga o teimoso viajante
a abrir nova estrada (p. 27).
A solidão da vida,
Longo ensaio
Da solidão da morte (p. 156).
Amiudam-se as partidas...
Também morremos um pouco
no amargor das despedidas.
Cais deserto, anoitecemos
enluarados de ausências (p. 84).
A morte espreita, em silêncio
O vivo jogo dos homens
No tabuleiro do tempo.
Cai a areia da vida
Na ampulheta da morte (p. 145).
Debruçados sobre a vida,
indagamos seus mistérios
e raramente alcançamos
suas respostas cifradas.
Ao calor do interrogar-se
nuvens ocultas esgarçam-se,
a luz em nós amanhece (p. 76).
Sol de primavera.
Céu azul, jardim em flor.
Riso de crianças.
Na pauta de fios elétricos,
uma escala de andorinhas (p. 28-29).
Para quem viaja ao encontro do sol,
é sempre madrugada (p. 70).
Hora total em que o ser atinge
a plenitude (p. 47).
https://pendientedemigracion.ucm.es/info/especulo/numero26/kolody.html
18-08-2009
Narração daquela noite
No coral da praça central,
haviam rostos configurados
com olhares mudos no tempo,
não piscavam os olhos no vento,
analisavam cada movimento.
riscavam os céus com emoções, a vibrar.
em expansão aquelas almas se revelaram naquele instante,
tento desfigurar o discriminador que em mim há,
para não arranhar o céu, nem matar a beleza poética daquele lugar,
não bebendo o vinho oferecido,
para embriagar-me só de poesias,
pois cautela dizia naquela noite fria:
“Se o vinho tinto desbotar o colorido daquela noite, como irei saborear?
como matar a memória imantada na chapa de minha alma,
que ficara a gritar no poço da desilusão?”
O reflexo no espelho d’água, tingido de vermelho,
que refletiam naquelas almas ali a se manifestar,
almas que volitavam como borboletas e mariposas em volta da fonte,
refletiam as luzes tremeluzentes da praça,
minha alma tinha sede de gritar,
tinha sede de poetizar.
E minha alma só voava nas asas da dama de negro,
que de seus lábios deslizavam poemas místicos pelo ar
e, com sua boca santa, a dama da noite encantava
e estava a profetizar, nos sonhos, fazia-nos navegar.
Se contorciam e convergiam no coreto da praça central,
poetas do mesmo instante, e os que passavam como figuras dançantes,
e, como ventos uivantes e sussurrantes, almas figurantes cortavam o ar
pelos galhos quebrantes de carvalho;
naquela noite de orvalhos.
Edson Moraes
22 de julho 2009 (Narração do Primeiro Sarau no Coreto da Pça. da Rodoviária Velha)
Canto Noturno - Edison Moraes (adaptação Nietzsche)
É noite. À beira da fonte ouço seu murmúrio.
É noite. Aproximo-me mais e vejo o reflexo da lua tremeluzente no espelho d’água.
Um murmúrio grita no silêncio da noite.
Minha alma também é uma fonte que jorra, há qualquer coisa em mim, que quer elevar a voz.
O murmúrio no silêncio da noite é como um grito de revolução.
Como um trovão que ecoa no vale. Sinto desejo de potência. Eu sou Luz!
Ai de mim se não fossem as trevas. Só há luz se existir trevas, então porque mal dizê-las?
Não há mais trevas do que luz no Universo?
Serei Luz, como esse sol que vejo o seu reflexo tríplice, n’água, na lua e nos meus olhos?
Sinto agora irradiar o amor dos seres que lá vivem.
Sim, vedes que os espíritos que lá vivem, se comunicam comigo, via lua, via água.
Quem sabe essas vias são necessárias para evitar uma cegueira de um olhar direto?
Más eu vivo em minha própria luz, absorvo em mim mesmo os raios que de mim brotam.
Não conheço a felicidade daqueles que recebem.
Minha pobreza reside em que minha mão nunca se cansa de dar.
Ó sorte maldita de todos aqueles que dão! Ó eclipse de meu sol! Eles recebem de mim.
Entre dar e receber há um abismo.
Gostaria de ver aqueles que ilumino, iluminar, aqueles que recebem bens, despojar-se dos seus pertences.
Tal é minha fome de mendigo. Dar sem receber é despojar do prazer de dar, pois minha virtude se cansou de seu orgulho. Aquele que sempre dá corre o risco de perder o pudor, cria calos nas mãos e no coração.
Queria eu parar de dar e receber de mim mesmo. – “Egoísta”. Uma voz superior me envergonharia com esse brando. Se me envergonho do orgulho de dar, também me envergonho de nada poder dar.
O egoísta não tem calos nas mãos, nem no coração. Ah! Para onde foi o aveludado do meu coração?
Ó silêncio de todos aqueles que brilham!
Fundistes todas as almas ascensas, aglutinadas na escuridão cósmica em sóis reluzentes.
Assim serei eu como tu? Tua luz fala a tudo o que é obscuro.
O prazer dos ventos é o da arribação das águias, assim como o prazer das trevas é o abrigar dos sóis.
Oh! Só vós criaturas escuras e noturnas, só vós tirais vosso calor do luminoso.
Só vós bebeis vosso leite e vosso reconforto no seio da luz! Ah! Tenho uma sede que suspira por vossa sede!
É noite. Ah! Por que hei de ser luz? E ter sede do noturno? E solidão!
É noite. Como uma fonte que brota, agora meu desejo é de gritar.
É noite. Mais alto falam agora todas as fontes que jorram. E minha alma, ela também é uma fonte borbulhante. Vem Aurora da Manhã, gritamos por teu alvorecer silencioso. Desejamos que as garças a brindem no seu bater de asas. Que o reflexo ébrio da Lua seja ofuscado pelo teu potente brilho.
Desejamos total potência para que as trevas se dissipem no dia que se aproxima.
Ajoelhando-me a beira desse riacho, prostro diante de ti, venero todas as almas que em ti abrigam em teu refúgio. Soma-se o amor das almas que vibram dentro de ti, e o seu calor reconforta todo meu ser.
Tu és fonte de todas as vidas, assim a noite se vai e entre luz e trevas há um abismo que se chama EU.
Que se precipita como cascatas, silenciosas no início e ruidosas no final.
Cascatas que se chocam violentamente sobre rochas que, dissolvendo-se, cedem com delicadeza no meio as gotas de um arco-íris. A feminilidade não tem também a sua potência? Não tem também sua potência a Aurora que dissipa as trevas da noite? E lá se foi à noite. Vai, sim! Era noite!
22/07/2009
Adaptação: Edson Moraes
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O Canto Noturno de Nietzsche
Ver o original em:
https://algoquedeveteracontecido.blogspot.com.br/2011/08/o-canto-noturno-de-nietzsche.html
Aos guerreiros da Luz
Alegre-se, pois a terra gira, e logo, logo haverá luz,
o Sol estabelecerá suas pressões polares,
e guiará nossos passos por novas sendas,
nos dará chances para o ajuste.
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Novamente teremos um dia para manifestarmos
dentro da luz celestial. Anime-se guerreiro,
o cansaço da luta não é tema para desânimo.
Se lutas pelo amor, lutas por uma causa justa.
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Morrerás para o mundo e renascerás no amor,
Lutarás pela luz, com a espada do seu fogo,
Até compreender vossa natureza solar
Encontrarás a paz real e fundir-se-á ao Sol Central
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Momentum quântico precipitará
De todas as estrelas, raios se convergirão para ti,
Só vos verá, só vos sentirá a vibração solar,
Não há prazer no mundo que o descreverá
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Num túnel percorrerás a velocidade da luz
No vácuo planará, descendo sobre chuvas de raios
No OM irá se fundir, Nirvana ficou pra trás
Percorrerás qualquer distância em segundos
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Alegre-se, pois o amor efêmero, pra traz ficará.
Mergulharás na longa noite de Brahmâ
Alegre-se por mais um dia. No amor real se fundirá
E viajarás no infinito tempo de Brahmâ
Edson Moraes