Alessandro Bertholli

Alessandro Bertholli

 

 

Calendário velho

 

Quanta saudades sinto de mim

Do eu de ontem

Que corria atrás da própria sombra até alcançá-la

Dos cabelos ainda negros e dos olhos sagazes

Da voz de gralha e até do corpo franzino

Saudades dos joelhos esfolados e da barba falhada

Dos sonhos não realizados e dos amores não correspondidos

Das músicas que detestava e que um dia jurei nunca ouvi-las

Saudades dos amigos desengonçados

E da moça que não tive coragem de roubar um beijo

Da fome insaciável e da sede pela vida

Dos abraços que dei e da sinceridade que haviam neles

Saudades do arrependimento das palavras que não usei e do perdão que não pedi

Da flores que roubei e das pedras que joguei

Da água suja que bebi e dos porres que tomei

Saudades dos dias chuvosos que amaldiçoei

Da roupa nova que sem querer rasguei e das broncas que tomei

Das pessoas para quem eu sorri e das que fizeram-me sorrir

Das quais por quem eu chorei e das quais que por algum motivo eu fiz chorar

Saudades do calendário que eu não via a hora de acabar.

 

Alessandro Bertholli

 

Olhares

 

Sentei-me diante de seus olhos

Que refletiam o desespero dos meus

Seus olhos diziam-me como estão infelizes

Em silêncio,meus olhos te diziam

Que eu sentia muito em te perder

Em silêncio os seus diziam-me como sofres

Com as cinzas de um amor que outrora ardia em nós

Sofridos, meus olhos diziam-te  

Que ainda podiam fazê-los brilharem

Sofridos, os seus diziam-me

Que queriam fitar novos olhares e não mais os meus

Cheios de lágrimas

Os seus olhos pediam-me para deixá-los

Cheios de lágrimas

Os meus disseram-lhe adeus .

 

Alessandro Bertholli

 

26/11/08